terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Românticos

Um fim de tarde, no quarteirão que compreende 87 metros da Rua Conselheiro Pereira Pinto, em São Paulo. Foi neste cenário que o clichê romântico amor a primeira vista se tornou olhares, encantamentos, indecisões, expectativas e suspiros reais.

De calça preta tactel, camiseta branca, tênis, agasalho amarrado abaixo da cintura e mochila, caminhava com ar cansado, a cabeça levemente inclinada para o chão e os pensamentos variando entre as alunas preguiçosas que fazem charme durante a aula, a agenda do final de semana e a soneca de logo mais.

Do lado oposto, vestindo calça social preta reta, blusinha florida, scarpin preto, blazer e bolsa social, seguia a passos firmes, com olhos fitos no trajeto e os pensamentos variando entre cuidados de beleza e a grosseria peculiar do chefe, mas voltando sempre a necessidade física de chegar a casa.

Poucos segundos após ambos adentrarem o pequeno quarteirão, os olhares se cruzaram de maneira tão inesperada e espontânea que ignorar seria impossível. A expressão que se desenhou em seus rostos era de êxtase, combinado com vergonha e certo magnetismo. Já a de quem passava por perto era de empolgação, misturada com descrença e um pouquinho de inveja.


Continuaram andando no mesmo ritmo. A pequena platéia de três pessoas diminuiu o passo para discretamente observar com o coração cheio de expectativas, na torcida de presenciar uma cena digna de roteiro de cinema. O casal se aproximava rapidamente, apesar de o tempo se tornar meio confuso pra todos naqueles momentos. Mais perto. Ainda mais. Chegando. É agora. Os olhares se cruzaram, não se desgrudaram, mas simplesmente se perpassaram.

Os espectadores se dispersaram inconformados, porém havia uma otimista, que permaneceu a passos lentos e olhando sorrateiramente para trás na esperança de que algo mais acontecesse. E assim foi.

Eles não acreditavam em destino, muito menos em amores nascidos de encontros nada convencionais como aquele, mas algo os fazia querer novamente admirar um ao outro como quando se vê uma obra de arte que finalmente te faz entender o que é o belo. Assim, no mesmo instante, ambos se viraram. Se observaram minuciosamente, porém amedrontados com tamanha sintonia inexplicável, desistiram.

Se a vida foi generosa como nos filmes fofos, que povoam a imaginação do adolescente apaixonado dentro de nós, e lhes deu novas oportunidades, não se sabe.  Certo é que o casal de protagonistas, aquela expectadora persistente e também, no fundo, os que deixaram a platéia sem ver a conclusão da sequência se retiraram sentindo um leve aperto no peito e dizendo em silêncio um sincero amém.