terça-feira, 10 de abril de 2012

O Chantagista

No auge de seus 3 anos, com cabelos lisos e escuros, chuteira preta e uniforme do Colégio Marista, o menino caminha, chutando o chão, com a cabeça baixa e aquele ar inconformado de quem matuta a solução para um problema após vários esforços frustrados.

Ao observar a cena, é possível concluir que a moça de branco que o acompanha é a chave. O garoto se empenha na argumentação para conseguir demovê-la do intuito de denunciá-lo para a autoridade mais temida: a mãe. Ora nega, ora implora, mas não consegue fazê-la mudar de ideia.

Qual terá sido o crime?

A)Atravessar a rua correndo.
B)Puxar o cabelo do amiguinho na escola.
C)Responder mal a professora.
D)Falar palavrão.
E)NDA.

Não há como saber. Por certo, algo grave, pois ele usa todo o seu arsenal de despertamento da compaixão feminina (leia-se cara de coitado, voz embargada e olhos suplicantes). O problema é que nada funciona. Ela é linha dura.

Após alguns minutos, o réu infante se sente cada vez mais encurralado e está entrando em pânico quando, de súbito, seu rosto se ilumina. Em segundos, deixa toda a resignação de lado, infla o peito, levanta a cabeça imponente e grita convicto:

— Eu vou falar que você fez cocô na calça!

Ao que ouve:

— Pode falar o que você quiser!

A cabeça torna a baixar, os ombros são levados para frente, o olhar acompanha os pés que voltam a chutar o chão e ele segue, desolado.