“Plaft!”. Diferente do liso e molhado chão que causou a queda, o barulho foi seco e o tombo, dolorido. Era mais um daqueles dias chuvosos na capital paulista, quando portando um grande guarda-chuva verde e calçando o recém adquirido All Star rosa, ela caiu estatelada de bunda no chão.
Não sabia se ria ou se chorava, se amaldiçoava o responsável pela calçada, pela chuva ou pelo All Star, se morria de vergonha ou de dor, se conseguiria um dia se levantar dali ou não. O destino estava próximo. A moça só queria chegar ao seu local rotineiro de trabalho, a poucos metros dali, mas a dor que tomou toda a região de seu Cox , e a falta de transeuntes solidários a impediu por alguns minutos.
Até que, com um longo e profundo suspiro, ela criou coragem. Colocou as mãos sujas que ardiam de volta no chão e, com um impulso, se levantou. Ao ficar em pé, percebeu que a missão de caminhar não seria fácil. Deu alguns poucos passos e, como a vergonha neste instante era bem menor do que a dor que sentia, foi até a portaria do prédio ao lado para compartilhar o que alguns chamariam de “mico” e pedir algum tipo de ajuda.
Subiu os cinco degraus da entrada, fez uma cara de pobre menina machucada e disse: “Moço, eu caí ali na calçada”. O porteiro, não entendendo nada, quis saber onde. Ela explicou que era na casa do lado e choramingou: “Tô com o bumbum e as pernas doendo pra caramba. Minhas mãos estão sujas. Será que eu posso entrar, me sentar e lavar as mãos em algum lugar? Rapidinho?”.
O idoso compadecido foi logo abrindo o portão e oferecendo a sua cadeira na guarita para a acidentada. Um misto de alívio e felicidade se instaurou, enquanto ela abriu um largo e encabulado sorriso. Ficou por alguns instantes, lavou as mãos, se recuperou, agradeceu e foi trabalhar a passos lentos, mas confiantes, já que desvios acontecem e a vida continua.
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